quinta-feira, 24 de junho de 2010

: Sobre Dança e Fogo

Uma de minhas grandes frustrações é não poder dançar. Nem em pares, nem de forma solitária.
A dança expressa muito bem a plasticidade e elasticidade com as quais o corpo pode se manifestar em dançante evolução. No entanto, o fato de não poder dançar não impediu a criação de um de meus poemas mais imagéticos. Uma celebração à vida e sua movimentação. Detalhe: Este texto serviu de release para uma coreografia de dança com mesmo nome do poema.

Rito ao Fogo

Oh fogo, que encandece as entranhas do dragão,
ouça o grito nascido na profundeza do pulmão
daquele povo que tua fúria e beleza enaltece,
desce desse altar onde posa com altivez de mito.
Circula por entre veia e artéria,
do humano aquece espírito e matéria
pra que de Vulcano se possa evocar a força.
Teu calor entorpece: como se uma chama insípida,
inodora e incolor pudesse provocar uma espécie
de furor intenso e indolor.
Ígnea centelha desperta a alquimia vermelha
de sentimentos como a dor e o ardor de uma paixão,
fabricando movimentos os quais lembram
a pirotecnia de um amor em combustão.

Oh fogo, tu que és o único dos quatro fundamentais
elementos capaz de incendiar a anatomia dum corpo,
molda esta coreografia conforme tua vontade,
o que antes era estática partícula,
agora é a mais pura e plástica verdade.

Eis uma celebração
onde a única religião
é a arte pela arte
e cada humana labareda
faz da dança um estandarte

Texto: andarilho das sombras - Copyright©1998
Imagens: google.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

: sobre o jogo da vida















Alguns encaram a vida como um jogo (de interesses) . Não estão totalmente errados. Mas prefiro crer em algo maior. Se isso ainda assim for uma jogatina, seja esta pois para se apostar na evolução do Homem e não em sua gradual degradação enquanto espécie. Que venha então um xeque-mate com muito lirismo e crença em algo sublime, algo tão magnífico quanto degustar taças do mais refinado vinho - quer seja ao lado dos amigos ou na meia-taça - oferecida aos humanos pelos semi-deuses, discípulos de Baco, em suaves, porém selvagens corpos femininos.


Xeque-Mate

Drop’s de hortelã ou anis
apura o hálito da boca
à caça
d’um beijo com ardis.

Na tela, um drama de Almodóvar
procura mostrar talvez
ser o amor a mola-mestra
da trama
pela qual o mundo se mova.

Um jogo de xadrez
cujo objetivo do xeque-mate
ainda é depor reis,
(psicologicamente)
provando quão
seu reinado foi vão,
levando a rainha pra alcova
ou mesmo amando-a no chão
faça sol ou porventura chova.

Então, vem rainha,
seja minha
somente por devoção
mata a sede que me consome

com o néctar de sua vinha e sacia
a mais impiedosa
fome que agora se amplia,

com a carne da fruta-pão.

O vinho enfeitiça atiça
coloca-me num torpor
a pele libera expele
a fórmula mestiça
do êxtase
inconfundível odor,
mesmo não sendo
advinnho posso supor
em breve será feito Amor


Vem, meu corpo envolva
sem qualquer pudor
sorva
com a saliva meu sabor
até que eu (prazerosamente)
lhe absorva
magicamente resolva
lhe provar
sem tirar de Cartola
a fantástica e simples descoberta
de que as rosas não falam,
simplesmente as rosas exalam
nosso enredo
antes do filme terminar.

Texto: andarilho das sombras - Copyright©2001.
Imagens: Google/1000imagens.com

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