
A dança expressa muito bem a plasticidade e elasticidade com as quais o corpo pode se manifestar em dançante evolução. No entanto, o fato de não poder dançar não impediu a criação de um de meus poemas mais imagéticos. Uma celebração à vida e sua movimentação. Detalhe: Este texto serviu de release para uma coreografia de dança com mesmo nome do poema.
Rito ao Fogo
Oh fogo, que encandece as entranhas do dragão,
ouça o grito nascido na profundeza do pulmão
daquele povo que tua fúria e beleza enaltece,
desce desse altar onde posa com altivez de mito.
Circula por entre veia e artéria,
do humano aquece espírito e matéria
pra que de Vulcano se possa evocar a força.

Teu calor entorpece: como se uma chama insípida,
inodora e incolor pudesse provocar uma espécie
de furor intenso e indolor.
Ígnea centelha desperta a alquimia vermelha
de sentimentos como a dor e o ardor de uma paixão,
fabricando movimentos os quais lembram
a pirotecnia de um amor em combustão.
Oh fogo, tu que és o único dos quatro fundamentais
elementos capaz de incendiar a anatomia dum corpo,
molda esta coreografia conforme tua vontade,
o que antes era estática partícula,

agora é a mais pura e plástica verdade.
Eis uma celebração
onde a única religião
é a arte pela arte
e cada humana labareda
faz da dança um estandarte
Texto: andarilho das sombras - Copyright©1998
Imagens: google.