
Lendas do Sertão
De um lado a paixão pela lenda chamada lampião,
do outro, a fé num mito cuja força mantém de pé
o nordestino, Padim Padre Ciço.
Assim é o sertão: terra morta que, vez por outra,
um rio corta deixando na face do destino
uma fenda
: insólita cicatriz torta.
Não há quem se defenda.
Espaço feito de poeira vinda da capoeira
e de homens carregando no peito a lei do cangaço
escrita, na maioria das vezes, por lâmina talhada em puro aço.
Na aridez da caatinga vê-se a nua palidez

do animal que um dia foi caça,
hoje não passa duma velha carcaça...carniça
exalando catinga...aguçando o faro dos urubus
pousados na forçada velhice dos mandacarus.
Tão arisco quanto a cascavel e seu guiso é o cangaceiro,
morador de tapera considerado por muitos um justiceiro.
Pra libertar seus instintos de fera espera pela primeira falha,
arma o bote usando como escudo o amolado fio da navalha.
Envolve a presa com grande destreza.
Aguardando o desenrolar os acontecimentos,
visando da alma amenizar os tormentos,
vale a quente companhia da aguardente.
Tanto o xote quanto o forró contribuem
para o esquecimento de que se está só.
Em volta não há semente...somente pó.
Entre uma e outra roda de repente,

de repente um poeta se descobre.
Seus poemas valem mais que cobre.
São grãos da tempestade de areia.
São elos da ligação entre mar e sereia.
Brevidade de corisco passando feito risco.
Sofrida é a vida do sertanejo
:cantador catando siris na lama do mangue.
Perecendo de fome, perdendo seu sangue.

Andarilho das Sombras - Copyright©1997.
Música: Canção Agalopada - Zé Ramalho
(Clique no link laranja e ouça)
Teu canto tem viço...
ResponderExcluirBeijinho com admiração, Andarilho!
E até a terra que parece não ter vida; terra áspera reverte-se em vivacidade nas linhas do poeta.
ResponderExcluirE seja muito bem vindo Andarilho.
Forte abraço.