sábado, 30 de abril de 2011

: Sobre Marcas Significativas

Em comemoração ao romper da barreira de 3000 acessos, o Andarilho das Sombras agradece o carinho de todos os frequentadores desse espaço. Para tanto, foi feito um selo-link para cada amigo, leitor e proprietário de blog indicados à direita das postagens. Espero que gostem. Fraterno Abraço.

Agradeço também aos anônimos andantes cuja presença também é fundamental para que este blog tenha sua razão de ser. Voltem Sempre! Felicidade a todos!

Música: The Contender - Arn Version
(Clique no link laranja e ouça).

segunda-feira, 25 de abril de 2011

: Sobre Lendas e Sertões

Em secas terras ainda brota a poesia bruta. Não é preciso ser tão áspero para entender as lendárias leis vigentes no sertão. No trotar agalopado de uma canção também viajam em alforjes dos cangaceiros a sina e a esperança arraigadas em franzidas valentes suadas testas franzinas.

Lendas do Sertão

De um lado a paixão pela lenda chamada lampião,
do outro, a fé num mito cuja força mantém de pé
o nordestino, Padim Padre Ciço.
Assim é o sertão: terra morta que, vez por outra,
um rio corta deixando na face do destino
uma fenda
: insólita cicatriz torta.
Não há quem se defenda.

Espaço feito de poeira vinda da capoeira
e de homens carregando no peito a lei do cangaço
escrita, na maioria das vezes, por lâmina talhada em puro aço.

Na aridez da caatinga vê-se a nua palidez
do animal que um dia foi caça,
hoje não passa duma velha carcaça...carniça
exalando catinga...aguçando o faro dos urubus
pousados na forçada velhice dos mandacarus.

Tão arisco quanto a cascavel e seu guiso é o cangaceiro,
morador de tapera considerado por muitos um justiceiro.
Pra libertar seus instintos de fera espera pela primeira falha,
arma o bote usando como escudo o amolado fio da navalha.
Envolve a presa com grande destreza.

Aguardando o desenrolar os acontecimentos,
visando da alma amenizar os tormentos,
vale a quente companhia da aguardente.

Tanto o xote quanto o forró contribuem
para o esquecimento de que se está só.
Em volta não há semente...somente pó.

Entre uma e outra roda de repente,
de repente um poeta se descobre.
Seus poemas valem mais que cobre.


São grãos da tempestade de areia.
São elos da ligação entre mar e sereia.
Brevidade de corisco passando feito risco.

Sofrida é a vida do sertanejo
:cantador catando siris na lama do mangue.
Perecendo de fome, perdendo seu sangue.












Andarilho das Sombras - Copyright©1997.
Música: Canção Agalopada - Zé Ramalho
(Clique no link laranja e ouça)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

: Sobre Música e o Imponderável

Incrível como nenhum de nós tem sequer noção de como as músicas influenciam nossas vidas ou nossss vidas são influenciadas pelas canções. Notas músicais em conjunção têm vida própria assim como cada ano - estação pós estação. A vida é uma sinfonia cujas partituras são diariamente escritas em efêmeras bolhas de sabão.

É preciso



[...]
Naturalmente conviver
com
o imponderável
o sobrenatural.
Andar com destreza
sensibilidade
e equilíbrio
sem igual
Na bamba corda
que
separa
o mundo
racional
do
passional.

Observar o mar, mistura perfeita de água e sal,
A contracenar com um pôr-do-sol: fenomenal.
Nutrir o sonho com um pé no real: Essencial.

*Fragmentos do Soneto Essencial
( fora de formatação)



Andarilho das Sombras - Copyright©2008.
Música: Primavera no Coração - Nenhum de Nós

quinta-feira, 14 de abril de 2011

:Sobre as Cores do Amanhã

Há momentos nos quais a vida pede um pouco de cor. Quando tudo parece opaco, cinzento, sem direção olhe ao redor e tente enxergar as matizes a se manifestar nas mais sutis possibilidades. Seja no reflexo aquoso de uma poça d'água ou no verde-esperança de um louva-deus a planar sob a quase transparente orientação de uma branca luminária a focalizar um apertado amplexo. Os tons do viver se multiplicam em lindas cores aos olhos da imaginação. Eis que surge imponente um lápis de cor entre o piscar dos olhos e seu próprio lapso. Amanhã será um outro dia e a manhã com suas cores vai ser um belo recomeço para curar os tropeços os quais se apresentaram, mas não intimidaram.

Lápis de Cor

Preparar... apontar... rabiscar.

Ele sai do seu estado de inércia
pra pintar o sete, fazer peripécia,
displicentemente desliza sobre a
crua e lisa superfície do papel...

Desgasta sua ponta anil,
de forma brusca ou sutil
eterniza um leve assobio
no ir e vir da levada brisa.

Tons pastéis materializam
num degrade de marrons
o noturno mistério oculto
em Saturno e seus anéis.

A folha outrora nua se veste
gradualmente com a textura
contemporânea e abstrata
da moderna e densa gravura.

Frescos corantes se unem em concentrada
matiz que colore os afrescos com aparente
cera de giz... pra gerar um efeito gris
mesclam-se várias nuanças,
sejam elas intensas ou mansas,
depende da intenção.
Amarelo caramelo sobreposto
à violeta criada em proveta,
verde verdume verdejante
empresta todo seu lume
pra clarear o bom gosto
do laranja que se arranja.
E assim funciona
o cromático engenho da criação:
a intuição o lápis impulsiona
na direção indicada pelas pás
do moinho da imaginação
(...)
Lá está ele, o desenho
(...)
Em sua eterna, livre concepção.
Andarilho das Sombras - Copyright©1998.
Música: A Dança da Cor - Oswaldo Montenegro

sábado, 2 de abril de 2011

: Sobre Exílios e Canções

Houve um tempo no qual a liberdade não era vista e tratada apenas como algo banal em nossas vidas. Nos anos de chumbo, o céu não era a única fronteira a se nublar diariamente. Homens sendo lobos dos próprios homens em uma ciranda de poder e manipulação. Quem sobrevive a tamanhas torturas, muito mais que físico-corporais sobreviveria também às atrocidades psicológicas tão fortes nas relações humanas? Esta é uma entre tantas outras perguntas a não silenciar. Em um período tão efervescente a poesia tinha voz bem mais nítida e clara. Trazia em suas linhas e entrelinhas uma tentativa de resgatar os valores éticos e morais tão cruelmente dilacerados. Imagino quão difícil era para poetas como Thiago de Mello perceberem-se obrigados a se exilar. Não me refiro somente ao exílio político, mas também à clausura imposta a alma por circunstâncias tão devastadoras. Há um revigorante poema de nome Os Estatutos do Homem, o qual nos convida a uma importante reflexão: até quando nós mesmos vamos nos submeter a tão avassaladores exílios de pensamento ? Uma sugestão: não se tranque em claustros cuja existência possa impedi-lo de exercer sua maior conquista – a Liberdade. Com uma certeza: O show tem que continuar, como cantam João Bosco e Zizi Possi a letra de Aldir Blanc – O Bêbado e o Equilibrista. (Cique e ouça aqui: youtube).

Com vocês, Thiago de Mello

Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.


Artigo XI

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.


Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964

Fonte: Jornal da Poesia
Música para leitura - ouça: Chevaliers de sangreal

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