segunda-feira, 25 de abril de 2011

: Sobre Lendas e Sertões

Em secas terras ainda brota a poesia bruta. Não é preciso ser tão áspero para entender as lendárias leis vigentes no sertão. No trotar agalopado de uma canção também viajam em alforjes dos cangaceiros a sina e a esperança arraigadas em franzidas valentes suadas testas franzinas.

Lendas do Sertão

De um lado a paixão pela lenda chamada lampião,
do outro, a fé num mito cuja força mantém de pé
o nordestino, Padim Padre Ciço.
Assim é o sertão: terra morta que, vez por outra,
um rio corta deixando na face do destino
uma fenda
: insólita cicatriz torta.
Não há quem se defenda.

Espaço feito de poeira vinda da capoeira
e de homens carregando no peito a lei do cangaço
escrita, na maioria das vezes, por lâmina talhada em puro aço.

Na aridez da caatinga vê-se a nua palidez
do animal que um dia foi caça,
hoje não passa duma velha carcaça...carniça
exalando catinga...aguçando o faro dos urubus
pousados na forçada velhice dos mandacarus.

Tão arisco quanto a cascavel e seu guiso é o cangaceiro,
morador de tapera considerado por muitos um justiceiro.
Pra libertar seus instintos de fera espera pela primeira falha,
arma o bote usando como escudo o amolado fio da navalha.
Envolve a presa com grande destreza.

Aguardando o desenrolar os acontecimentos,
visando da alma amenizar os tormentos,
vale a quente companhia da aguardente.

Tanto o xote quanto o forró contribuem
para o esquecimento de que se está só.
Em volta não há semente...somente pó.

Entre uma e outra roda de repente,
de repente um poeta se descobre.
Seus poemas valem mais que cobre.


São grãos da tempestade de areia.
São elos da ligação entre mar e sereia.
Brevidade de corisco passando feito risco.

Sofrida é a vida do sertanejo
:cantador catando siris na lama do mangue.
Perecendo de fome, perdendo seu sangue.












Andarilho das Sombras - Copyright©1997.
Música: Canção Agalopada - Zé Ramalho
(Clique no link laranja e ouça)

2 comentários:

  1. Teu canto tem viço...

    Beijinho com admiração, Andarilho!

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  2. E até a terra que parece não ter vida; terra áspera reverte-se em vivacidade nas linhas do poeta.
    E seja muito bem vindo Andarilho.

    Forte abraço.

    ResponderExcluir

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